
É comum em aulas, seminários e mesmo em livros a afirmação que talento se difere de dom. O primeiro é humano, inato e pode ser aperfeiçoado pela técnica. O segundo vem do Espírito e, portanto, sempre tem algum elemento de sobrenaturalidade. Portanto, segundo essa tese, saber cantar com maestria é um talento, mas não um dom do Espírito. Enquanto a profecia é dom do Espírito, mas não um talento.
Embora essa separação seja didática sobre os propósitos de cada dádiva, o fato é que a Bíblia não faz uma divisão rígida entre talento e dom. Aliás, na Bíblia toda vez que a palavra “talento” aparece é para referir-se a uma moeda.
Quando o apóstolo Paulo fala sobre os dons do Espírito aos cristãos de Roma, por exemplo, ele coloca na mesma lista a profecia, o ensino, a generosidade na contribuição financeira, a administração e a exortação (cf. Rm 12.6-8). Na segunda lista dos dons espirituais aos coríntios, o apóstolo coloca a cura divina e o falar em línguas ao lado do dom de mestre e do dom de administração (1 Co 12.28). Na Bíblia hebraica, a arquitetura, a pintura, a botânica e a arte da decoração são colocadas como um dom do Espírito (Êx 31.1-11). O texto bíblico diz que os filhos de Asafe profetizavam “com harpas, liras e címbalos” (1 Cr 25.1). Asafe, inclusive, era conhecido como vidente, ou seja, um profeta que experimentava visões (2 Cr 25.30). O próprio Davi era um cantor-profeta (2 Sm 23.1-2).
Portanto, essas divisões entre dons de serviço e dons espirituais, embora sejam didáticas, não são extraídas da própria Bíblia. Assim como a Bíblia não faz uma divisão entre dom natural e dom sobrenatural.
Alguns dons são de natureza miraculosa, outros não; alguns dons podem ser aperfeiçoados, outros não; alguns dons são recebidos a partir da busca em oração, outros já nascemos com eles; alguns dons envolvem o serviço do dia a dia, outros envolvem a liturgia do culto. Todavia, a fonte de todo dom é o Espírito Santo de Deus. Tiago, o irmão do Senhor, escreveu: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm lá do alto, descendo do Pai das luzes." (Tg 1.17).
Pastor Sergio Fernandes
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