
(Dr. David Martyn Lloyd-Jones.)
1. AS DIFICULDADES DA PREGAÇÃO HOJE.
Vivemos numa época em que não somente a pregação, mas a existência da própria Igreja está sendo contestada. Qual é a causa da atual reação contra a pregação? Por qual motivo a pregação decaiu da posição que anteriormente ocupava na vida da igreja e na estima do povo? Não se pode ler a história da Igreja, mesmo de forma superficial, sem perceber que a pregação sempre ocupou posição central e predominante na vida da Igreja, particularmente no protestantismo.
Assim sendo, donde vem esse declínio do lugar e do poder da pregação? E por que se põe em dúvida, afinal, a necessidade de qualquer pregação? A meu ver existem algumas causas atuais e gostaria de enumerá-las:
1. A perda da crença na autoridade das Escrituras.
Se alguém não for revestido de autoridade, não poderá falar bem, não poderá pregar. Enquanto os homens criam nas Escrituras como a Palavra de Deus, e falavam alicerçados sobre essa autoridade, tínhamos grandiosas pregações. Porém, uma vez que isso desapareceu e os homens começaram a especular, a postular teorias, a apresentar hipóteses, e assim por diante, a eloquência e a grandiosidade da palavra falada inevitavelmente passaram a declinar e começaram a desvanecer.
2. Conforto tecnológico.
Com o forte advento da tecnologia (televisão, cinema, vídeos, Internet, celular, etc.), a pregação passou a ser vista como algo antiquado, maçante e cansativo. O espectador pode ver e ouvir, hoje, várias cenas coloridas em questão de segundos, personagens bem arrumados, falando corretamente e num ótimo timbre de voz. E isso ele o faz deitado em sua confortável poltrona, sofá ou cama. Na Igreja, o cenário é bem diferente, pois ele é “obrigado” a ficar ouvindo um sermão monótono, por cerca de uns 40 minutos, em uma posição incômoda, sentado em um banco de madeira, geralmente, bastante desconfortável.
3. A ascensão do louvor.
Além de tudo isso, deu-se, atualmente, uma nova ênfase “ao culto”, no que com frequência se tem chamado de “elemento da adoração”. À medida que a pregação se tem amainado, tem havido incremento no elemento formal do culto. Argumenta-se hoje que o povo precisa ter mais participação no culto, e assim introduziram mais e mais música, cânticos e louvores, a tal ponto de deixarem apenas quinze minutos para o pregador expor a “mensagem” da Palavra de Deus. Tudo isso faz parte da reação contra a pregação em nossos dias, e o resultado é que a leitura da Palavra e a oração foram drasticamente abreviadas no culto.
4. Despreparo teológico.
A quarta causa dessa rejeição à pregação tem sido a despreparo teológico por parte dos pregadores, deixando-os livres para fazerem uso de uma hermenêutica alegorista. Essa maneira de ler e expor os textos da Bíblia permite, mesmo quando não é o caso, que qualquer texto da Escritura sirva como base justificadora para qualquer coisa que se deseja dizer em público. Daí o fato de um irmão muito simples afirmar em sua pregação que Jesus era o “Alfa” por ser o melhor caminhão da época e o “Ômega” por ser a melhor marca de relógio usado em seus dias. O resultado é trágico nesses casos: a relativização total da palavra de Deus.
Um mito vigente nas igrejas é que quem se prepara muito para pregar, terá uma pregação “não ungida”. Isso é mera desculpa de um pregador preguiçoso. Você já deve ter ouvido alguém dizer: - “Quando cheguei aqui não sabia o que ia pregar, mas assim que subi nesse altar o Espírito Santo me revelou outra Palavra” ou “Eu não preparo pregação, o Espírito de Deus me revela”. São frases irresponsáveis e brincam com o Espírito Santo, atribuindo a Ele a preguiça do pregador em passar várias horas em estudo e oração para pregar a Palavra.
5. Despreparo cultural.
Em quinto e último lugar, vem o despreparo cultural por parte dos pregadores. Karl Barth, renomado teólogo suíço, dizia que os pregadores deveriam carregar a Bíblia em uma das mãos e o jornal em outra mão, para estarem sempre atualizados em seus temas. A leitura de livros, revistas, artigos acadêmicos, hoje disponíveis de maneira abundante na Web, devem ser uma constante na vida de quem deseja ministrar o ensino da Palavra de Deus. Apesar de o pregador ser considerado um homem de um livro só, no caso a Bíblia, tudo o que ele lê, além dela, tem como objetivo ajudá-lo a compreender esse livro.
Concordo com o Dr. David Martyn Lloyd-Jones, que em seu livro “Pregação e Pregadores” relaciona o declínio da Igreja ao empobrecimento e desprestígio do púlpito. O grande número de crentes nominativos em nossas Igrejas é consequência dos púlpitos insossos, sem unção, vida nem criatividade. Para que a Igreja cumpra seu papel no mundo é imprescindível que os pregadores desempenhem seu ministério eficientemente e façam com que a pregação da Palavra volte a ser o momento mais importante do culto.
Para que a pregação readquira seu grau de importância é imperativo que os pregadores tenham um preparo adequado, tanto espiritual como intelectualmente. O pregador deve ser vocacionado por Deus para a mais importante tarefa do mundo e, consciente de sua excelente missão, dispor-se nas mãos de Deus buscando a direção do Espírito em todas as áreas de sua vida. A vida do pregador precisa referendar seus sermões. Ele deve viver o que prega, ser exemplo de vida, de santidade, amor, oração, honestidade, chefe de família. O preparo intelectual é igualmente importante. É necessário que o pregador seja uma pessoa dada aos estudos, primeiramente das Escrituras, mas não somente conhecimento bíblico é fundamental ao bom pregador. Ele precisa ter boa formação teológica, dentre outras áreas, e isto exigirá do pregador constante apego aos estudos e pesquisas.
2. O QUE NÃO É PREGAÇÃO?
1. Pregação não é mensagem de encomenda.
Em primeiro lugar, estão as pregações que anulam a possibilidade de discussões públicas da verdade moral, mas que abrem as portas às ações maquiavélicas que visam derrubar o “inimigo-irmão”. Quando quero mandar um “recado” para algum irmão basta aproveitar a oportunidade para despejar sobre ele um discurso do alto “sob encomenda”.
2. Pregação não é um pacote de revelação do céu.
Quando se tem uma espiritualidade subjetiva, mística, baseada em revelações particulares das Escrituras, e se está na frente da Igreja, no púlpito, qualquer coisa que for dita será tida como a “Palavra de Deus”. Quem vai falar contra isto? Quem vai ter coragem de questionar a palavra “Assim diz o Senhor”? Se alguém falar alguma coisa será considerado apóstata, um incrédulo, um cristão “frio”, quase um herege.
3. Pregação não é estudo bíblico.
Muitos pregadores acham que a pregação consiste em falar sobre uma palavra-chave (amor, santidade, zelo, etc.), e, a partir disso, procuram em suas Bíblias (principalmente naquelas em que há concordância Bíblica) um amontoado de versículos bíblicos e no decorrer da “pregação” vão comentando um por um. Tendo feito isso, a maioria dos pregadores não passa da introdução do sermão, pois este fica, na maioria das vezes, sem uma aplicação atual.
4. Pregação não é uma palestra.
Há uma nova ideia sendo infiltrada na Igreja com relação à pregação, a qual tem assumido variadas formas. Agora, alguns pregadores começaram a falar sobre a “palestra” durante o culto, ao invés de falar sobre o sermão. Uma sutil modificação: não mais um “sermão”, mas uma palestra, ou talvez, uma preleção, algumas como se fossem proferidas por um Coaching ou Humorista. De fato, há poucos cultos onde se vê uma verdadeira pregação. E mesmo nas igrejas onde ainda existe pregação, muitas vezes não é na verdade uma pregação da Palavra de Deus, mas uma palestra educada e intelectual sobre autoajuda ou autoestima, ou orientações de como conseguir ter sucesso e prosperidade financeira nesta vida.
A pregação de nossos dias é superficial, com ênfase no estilo e nas emoções. Na definição moderna, a “boa” pregação tem de ser, antes de tudo, breve e estimulante. Consiste em entretenimento, não em ensino, repreensão, correção ou educação na justiça (2Tm 3.16).
3. QUAL É O OBJETIVO DA PREGAÇÃO?
A palavra “pregar” tem a ideia da proclamação pública da palavra de Deus. A palavra grega trás justamente esta ideia.
Strong diz que a palavra keruz significa: mensageiro, ou aquele que anuncia. É traduzida no KJV (Bíblia em inglês, 1611) como: pregar – 51 vezes, publicar– 5 vezes, proclamar – 2 vezes, pregado – 2, e pregador – 1 vez, de um total de 61 vezes. Segundo Strong, a palavra significa “ser um orador, ser um orador por ofício, proclamar ao modo de um orador, sempre sugerindo formalidade, gravidade e uma autoridade na qual deve ser ouvida e obedecida, publicar, proclamar abertamente: algo que foi feito, usado na proclamação pública da verdade divina e das coisas pertencentes a ela, feito por João o Batista, por Jesus, pelos Apóstolos e outros discípulos de Cristo”.
A palavra PROCLAMAR ou ANUNCIAR também vem do grego keirusseine significa: “convencer, persuadir”. Assim sendo, o objetivo da pregação é o de convencer o ouvinte por meio de argumentos que irão questionar e mudar a sua forma de pensar (cognição). É isso o que a pregação significa. Ela fala conosco de tal maneira que nos põe sob julgamento; e trata conosco de tal modo que sentimos estar envolta toda a nossa vida; e saímos dali dizendo: “Jamais poderei voltar a viver como vivia antes. O que ouvi criou algo diferente em mim. Agora sou uma pessoa diferente, em resultado de ter ouvido aquilo”.
A pregação autêntica é aquela que trata da pessoa inteira, em que o ouvinte se sente envolvido e sabe que foi profundamente tocado e exortado por Deus, por intermédio do pregador. Alguma coisa teve lugar nele mesmo e em sua experiência, o que haverá agora de afetar a sua vida toda.
Os objetivos do sermão podem ser muitos, senão vejamos:
1. Consagração (Rm.12:1,2)
2. Doutrinação (Ef.4:14)
3. Inspiração (Ne.8:10)
4. Consolação (I Ts.4:18)
5. Fortalecimento (Cl.1:11)
6. Convicção (Atos 4:20)
7. Ação (Tg.1:22)
A pregação deve ter por finalidade comunicar “todo o desígnio de Deus” (Atos 20:27), em todos os níveis de maturidade e entendimento.
Pr. Sergio Fernandes
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